domingo, 19 de junho de 2011

"O óbvio ululante"

Um amigo posta no facebook: “Porque livro nesse país é uma coisa tão cara? Sempre achei isso intrigante...” Sem muito esforço penso, e respondo: “É porque cd de forró é de graça.”
Antes de achar meu raciocínio arrogante, porque provavelmente você gosta, afinal você vive na cidade do forró, e o exercício mais fácil e rápido é defender o que se relaciona com os nossos sentidos, por isso mesmo respondi tão fácil a indagação dele. Pense.
Quantas vezes você aguardou ansiosamente aquele dia de folga para pegar o seu livro que está insuportavelmente interessante, e devorá-lo. Quantas vezes você se sentiu renovar com uma leitura intrigante, construtiva. (...?) E quantas vezes você usou o seu tempo de folga para ir a festas, ouvir a música de forró do momento, ou beber exageradamente até chegar o próximo dia? Ah, você não gosta de ler, fazer o quê. Então, fique ciente, você não gosta de saber, você não gosta de se posicionar, você não gosta de ter o mínimo de capital intelectual. E a minha leitura sobre isso não está sendo preconceituosa, mas factual.
O que também é fato é que, conheço pessoas que não tem contato constante com os livros, mas possuem uma sabedoria inigualável, pessoas que até não concluíram os estudos regulares, mas sabem tanto de vida... Isso se dá pela capacidade reflexiva, crítica, e não menos, pelo percentual de humanidade que elas alimentam e plantam em si mesmas.
Está certo que para ser sábio não é preciso diploma, mas não é se atendo ao mundano, frívolo, que se chega ao menos perto. E por que sabedoria? É dela que deve vir todo o resto que valha a pena...
Acreditando em sentimentos verdadeiros, em respeito, em paixão e compaixão, em um olhar ameno sobre os outros, acreditando em olhar além de si, acredito na sabedoria, sabedoria de viver. E a questão é que não se consegue essa sabedoria em músicas que falam de pegar, beber, gastar... Por aí o raciocínio mais que lógico.
Li agora a pouco, o também óbvio, “a consciência coletiva é uma massa burra”. Ponto! Música, filme, novela, livro... Essas coisas servem para entreter, informar, atingir os sentidos. E é através delas que determinadas mentes e consciências chegam ao coletivo, no entanto, com a intenção de induzir, desinformar e atrofiar os sentidos!
Determinado gênero de livro ganhou a grande massa com um viés “torto” sobre a vida e os caminhos certos para a felicidade, o dinheiro e o amor. Esses livros vendem milhões; a televisão faz sua parte ganhando um bocado disso e ajuda a vender mais uns milhões, nessa ordem a propaganda em outros meios querendo também a sua ponta, ajuda a divulgar a “verdadeira fórmula” da vida plena; esses meios ajudam a validar os conceitos usados nos livros. Por ai mais uma vez o raciocínio.
Por aqui, é preciso atentar para o fato, tradição e cultura se diferenciam de diversão financiada por um grupo A, que domina boa parte da cidade com suas atrações musicais que se beneficiam da preguiça de pensar do povo (por isso as músicas usam tantos refrões, e o mesmo vocabulário e tema). E outra coisa irritante; estilo e moda não significam pessoas usando roupas iguais!
É cansativo andar de encontro ao vento. Mas é a melhor caminhada... Dá para sentir cada passo. Enquanto na outra direção do caminho, não se tem controle sobre o ritmo das passadas, e o vento é tão forte, que até não é preciso algumas vezes pisar o chão...
Para seguir o bonde, ou quem sabe a carroça, não é preciso saber mais do que o que “todo mundo sabe.” Mas a vida pede mais que isso.
A vida pede para ser humano, e, parece, o que “todo mundo” esqueceu, é que a principal qualidade de humano é a racionalidade. Com o que as pessoas têm para oferecer ultimamente, isso está ficando raro.

Um comentário:

Frido disse...

Texto perfeito!
Isso sim merece um replay. Deveria escrever mais sobre essas coisas.

Vou me apossar dele!

Abraços.

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Cinthia Freitas