terça-feira, 4 de agosto de 2009

“Sobre essas coisas sem jeito que eu trago em meu peito”



Não sei se viver é melhor que sonhar, é que o que é vivido acontece de não ser mesmo aquilo que se deseja porque aprendemos é que nem sempre teremos o alcance dos nossos quereres, mas é que esse “nem sempre” se transforma comumente em nunca, por pura acomodação ou cegueira, por tanta impotência acolhida, por tanta covardia, nos permitimos o nunca e o não sonhar, pra fugir do ridículo que é apostar no esquecido. Deve ser por coisa assim parecida que se estende um vazio nas vizinhanças das minhas percepções, o que eu enxergo na crença e nas escolhas alheias é pouco, tão frívolo, vou entregando ao esquecimento, ao não sentido minhas verdadeiras vontades, minha imagem, sou uma metáfora de uma coisa qualquer que me substitui. Por um tempo achei que tudo o que sentia era conseqüência das justificáveis fases da vida, amadurecimento, adolescência, hormônios o que fosse, era questão de tempo, e esse tempo de tanto tempo em si ficou longe, desacreditado, continua em mim todos os sentimentos do mundo multifacetados e inconcebíveis, não conectados ao que eu entendo de mim e do resto, com tanto estranhamento multiplicam-se as perguntas e as insatisfações, já é difícil apostar em qualquer coisa, e o que permanece não me convence de verdade, falta, faltas...
A minha arma enferruja quanto mais eu a espalho, é a mim que ando buscando tentando me enxergar em um outro, pra que então seja assim minha forma de viver, me encontrar no alguém que supre minhas representações do mundo, que usa a mesma arma, ‘amar’ tem que ser mesmo o caminho, mas penso também que a verdade é que só me encontro na busca, no ato, é um jeito de não me apagar e esmorecer, é a forma de não se encerrar e é a isso que eu vim, à continuidade, à caça, à vontade, que tudo isso não poderia deixar de ser amar, é por tanto amor à vida, ou por tanto odiá-la, o que não deixa de ser grande amor, ferido, que busco, que quero, e vivo.

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Cinthia Freitas