quarta-feira, 6 de maio de 2009

Chegar mais perto

A normalidade não é um estado, é um termo adequável, tem a ver com tudo que nos rodeia, do mais próximo ao mais distante, assim, posso ser normal em Fortaleza e anormal no Japão, normal pros meus amigos e anormal pra minha mãe, talvez até se eu dançar um sambinha no meio de uma rua isso me determine como louca no Japão e se fizer isso aqui vou ser apenas feliz. É a nem sempre evidente pressão social, tem gente que é faz e pensa e no fim não sabe por quê.
Afinal, será mesmo que aquela vontadezinha que você teve um dia não muito convencional vai te levar pra forca? Reprimir é muito fácil mesmo, esconder, abafar, mentir! A mentira é a melhor saída pra quem não quer ter trabalho, é muito mais fácil pro outro escutar o que quer do que segurar, aparar, sustentar uma verdade indesejada.
Quer saber, não é tão difícil abrir a cabeça, enxergar um pouco mais, o negócio é que as vidas são reduzidas a horários e lugares e pessoas, um círculo por onde rondam as mesmas, ou quase, sensações e olhares. Se não houver um passo a frente o que vou ver todos os dias é o mesmo caminho.
A verdade desafia, enquanto pra muitos o mais confortável é enxergar a sua fantasia, pra quem quer mesmo é falar a verdade cria-se um confronto direto, é assim nas relações familiares e amorosas, e por ai vai...
Por isso não sou religiosa, não me filio, não quero restringir minhas sensações, meus pensamentos, me achatar, me reduzir às palavras alheias, as cabeças alheias. Mas escuto conselhos, troco idéias, leio! Ler ajuda muito, os mais variados livros, não só os de auto-ajuda, não só os de filosofia, não só os românticos, ler tudo que puder, ler as pessoas observando-as, ler os pensamentos ouvindo-os, ler os lugares sentindo-os, ler as músicas... Tudo é de se ler, é de se aproveitar!
Tenho o direito de sentir o que meu vizinho não sente, e falar o que minha irmã não tem coragem, tenho direito de amar um negro sendo branca e de amar uma mulher sendo mulher, tenho direito de cantar no ônibus, de andar na chuva, tenho direito de calçar botas no verão. Até onde o seu olhar pode me condenar, e até onde estou ferindo o seu escudo? O que determina que eu tenha direito de não estar na moda, e o que determina que você tenha direito de me escarnecer por isso? Eu digo. Minha cabeça.
Minha cabeça estabelece o que me faz bem e o que não, mas é difícil entendê-la com tanto barulho ao redor, com tanta gente falando do que é certo e do que não é, então ela delega aos meus sentimentos o melhor a se fazer por mim, então eu sinto... Eu sinto um olhar reprovativo e isso me coíbe até eu resolver sentir o meu olhar pra dentro de mim, aceito as más críticas até eu entender o que eu desejo de verdade, e mesmo que não tenha chegado lá, na minha verdade, eu vou sentindo o meu caminho...
O que eu poço entender das situações é o que eu tenho na bagagem de referência, então vou fazer tudo conforme o meu olhar, mas se ele enxerga apenas uma direção vou ser injusta, tem muito o que se ver, o que se sentir, pelo menos o que se saber por ai, de vidas de coisas, que adicionariam a um olhar restritivo muito mais cores, e inevitáveis sensações, que são os sabores de viver.
Se nunca tivesse ido a escola certamente não saberia ler, pois se nunca tivesse escutado Oswaldo Montenegro não saberia que ao meu gosto é bom, se não lesse até o final os livros que de cara não gosto não teria razão em dizer por que eles são ruins. Bem, há muitas realidades para se enfrentar, e por razão de outras realidades algumas são difíceis de engolir; minha avó não aceitaria que minha mãe tivesse um piercing, minha mãe aceita um piercing, mas não o namorado dormindo em casa, a mãe da minha vizinha aceita o namorado dela dormindo na casa, mas não aceita um piercing, o pai dessa vizinha não aceita nem o piercing, nem o namorado.
São muitas realidades se confrontando, muitas verdades diferentes e nada de certo nem errado, são sentimentos em outros sentimentos.
Então, o que é normal não tem a ver com o olhar do outro, tem a ver com o seu, e uma baita coragem de enfrentar diferenças, maturidade pra entender diversidades, entender o tempo de cada um, os sentimentos de cada um, o que os rodeia e o que os falta, pra entender também que seu olhar e sua postura são o que você decidiu assumir, mas não o que exatamente se precisa, é a sua aposta, não a de todos.
Se não chegarmos mais perto, vai continuar esse abismo entre o que se sabe, e o que se pensa saber.

Nenhum comentário:

Os textos deste blog são de minha inteira autoria, excetuando eventuais publicações de autoria de terceiros que são devidamente reconhecidas.
Agradeço, de coração, a visita !



Cinthia Freitas